'Capacidade de jogar, não a de pensar, é fator crucial do nosso desenvolvimento', diz matemático de Oxford

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  • Author, Dalia Ventura
  • Role, BBC News Mundo
Dois homens jogando xadrez, e uma mulher observando

Crédito, Getty images

"Em uma época mais feliz, ousamos chamar a nossa espécie pelo nome de Homo sapiens", escreveu o renomado historiador cultural holandês Johan Huizinga.

Ele se referia ao termo introduzido por Carl von Linné em 1758 para diferenciar os seres humanos das outras espécies animais: sapiens era aquele que sabe, o homem sábio.

"Com o ar do tempo, percebemos que, no fim das contas, não somos tão racionais ​quanto o século 18, com seu culto à razão e seu ingênuo otimismo, pensava."

Mais tarde, surgiu a designação de Homo faber, o homem que faz, que — para Huizinga, não era a mais apropriada.

Ele propôs Homo ludens, o homem que joga, porque, na sua opinião, "sem um certo desenvolvimento de uma atitude lúdica, nenhuma cultura é possível".

"A civilização surge com o jogo e como um jogo, para nunca mais se separar dele". diz.

Apaixonado por jogos, Marcus du Sautoy, professor de matemática da Universidade de Oxford, no Reino Unido, concorda que "é a capacidade de jogar, e não de pensar, que tem sido crucial no nosso desenvolvimento", como escreve em Around the World in Eighty Games ("A Volta ao Mundo em 80 jogos", em tradução livre).

O livro é um apanhado singular, inspirada no famoso romance de Júlio Verne A Volta ao Mundo em 80 Dias, sobre "os vários jogos loucos, fantásticos e viciantes que a nossa espécie criou".

Ele se refere aos "jogos da mente" porque, embora se declare apaixonado por futebol, deixou de fora aqueles que são classificados como esporte, com uma exceção: "Não resisti à vontade de incluir o jogo de bola mesoamericano pitz".

Em sua jornada, Du Sautoy revela como ganhar em diversos jogos, e como eles sempre estiveram profundamente ligados à matemática.

Tabuleiro de jogo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Tabuleiro de jogo datado de por volta de 2.600-2.400 a.C. encontrado no Cemitério Real de Ur, no sul do Iraque

Para ele, "os jogos são aportes para outros mundos", e sua jornada não se dá apenas por lugares geográficos, mas pelo tempo.

Do Jogo Real de Ur — "é extraordinário poder jogar o mesmo jogo que entretinha os babilônios há 5 mil anos" — ao jogo online de palavras Wordle, que se tornou um fenômeno em 2021, e já havia sido jogado 4,8 bilhões de vezes em 2023.

Mas vamos começar do início...

As regras do jogo

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Uma pergunta que vários pensadores fizeram é por que jogamos.

Alguns, diz Du Sautoy, argumentaram que ao entender que o Universo era regido por regras, começamos a criar jogos como espaços seguros para explorá-las.

Já outros sugeriram que, na verdade, são uma ferramenta para explorar o nosso mundo interior.

"Acho que talvez o elemento mais importante seja o elemento social, porque os seres humanos são uma espécie altamente social", diz o professor.

"Nossa consciência exige que tentemos explorar a mente do outro, porque eu tenho um mundo interno, e suponho que você também tenha. Mas se estamos sentindo dor, a sua dor é semelhante à minha dor, o seu êxtase, o mesmo");