Eleição nos EUA: 3 em 4 brasileiros que vivem no país votam em Biden, diz pesquisa que apontou vitória de Trump em 2016

Crédito, Reuters
- Author, Mariana Sanches - @mariana_sanches
- Role, Da BBC News Brasil em Washington
Se dependesse apenas da comunidade brasileira nos Estados Unidos, a eleição presidencial americana, que será realizada em cinco dias, já estaria definida. Isso porque 71% dos brasileiros que vivem no país e possuem direito a voto dizem que preferem o democrata Joe Biden, enquanto 27% optam pelo republicano Donald Trump, que concorre à reeleição. É o que indica uma pesquisa feita pelo Instituto Ideia e obtida com exclusividade pela BBC News Brasil.
O Ideia ouviu 800 brasileiros maiores de 16 anos, entre os dias 26 e 27 de outubro, nos Estados da Flórida, Virgínia, Maryland, New Jersey, Nova York, Massachusetts, Texas, Illinois e Califórnia, além do Distrito de Columbia, onde fica a capital do país, Washington D.C.. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais. O instituto descobriu ainda que mais da metade desses brasileiros já votou — e engrossou os mais de 70 milhões de votos já recebidos no pleito atual. 33% deles enviaram suas cédulas via correio.
O retrato obtido pela pesquisa mostra o democrata Biden com vantagem de 44 pontos percentuais sobre o adversário Trump, em um quadro muito mais confortável do que aponta o agregado de pesquisas nacionais do site FiveThirtyEight, no qual Biden lidera com folga de nove pontos percentuais.
O que eles esperam de quem vencer a eleição?
A explicação para a ampla preferência pelo democrata também surge em uma pesquisa do Ideia realizada em setembro de 2020: 77% dos entrevistados se disseram contrários ao aumento nas restrições do governo americano sobre a imigração legal ou ilegal.
Questionados sobre quais devem ser as prioridades do próximo presidente, os brasileiros colocam em primeiro lugar, em empate técnico, a busca por uma vacina anticovid (23%), a recuperação da economia (22%) e a melhoria do sistema de saúde (19%). Na sequência, estão itens diretamente ligados à questão da imigração. Para 15%, a reforma do sistema migratório americano é o ato mais urgente do próximo mandatário e, para 13%, o presidente deveria se dedicar a criar um caminho para regularizar os indocumentados.
Foi exatamente o teor da proposta de Biden no último debate presidencial entre os candidatos, há uma semana. O democrata afirmou que levará adiante uma reforma do sistema e que enviará ao Congresso uma proposta para dar cidadania americana a 11 milhões de imigrantes que vivem de modo ilegal nos EUA hoje.
"Embora esses brasileiros que podem votar já sejam cidadãos e não estejam em risco de deportação, muitos deles nasceram aqui, filhos de imigrantes sem documentos. Ou são os chamados Dreamers, adultos jovens trazidos para os EUA ainda na infância em condição irregular. Para eles, a ameaça que as políticas de deportação representaram ou ainda representam para as suas famílias é muito real", explica Maurício Moura, fundador do Instituto Ideia e professor visitante da Universidade George Washington, em D.C..
De acordo com Moura, a comunidade brasileira, composta por cerca de 1,2 milhão de pessoas, associa Trump a uma ideia de tolerância zero com os imigrantes. O republicano se elegeu em 2016 prometendo construir um muro na fronteira com o México e colocar pra fora do país o que chamou de "bad hombres", em uma referência a latinos indocumentados nos EUA.
Durante sua gestão, Trump aumentou o número de detenções e prisões de pessoas indocumentadas. Em 2018, ele instituiu uma política de separação de milhares de famílias, inclusive brasileiras, que atravessaram sem autorização do governo americano a fronteira com o México. Por conta da medida, até hoje, 545 crianças jamais puderam ser reunidas a seus pais.
Além disso, em 2019, os americanos aram a submeter brasileiros a deportação sumária, isto é, sem direito a audiência na Justiça. E também aram a forçar imigrantes do país em busca de asilo a aguardar o desfecho do processo em território mexicano. Trump entrou ainda na Suprema Corte com um pedido de revogação da permanência dos Dreamers no país.
Embora o governo anterior, do democrata Barack Obama e no qual Biden era o vice-presidente, também tenha registrado recorde em deportações, para os brasileiros, o programa defendido por Trump é ainda mais agressivo e ameaçador.
"De alguma forma, é como se o Trump nem mesmo permitisse mais a vinda dessas pessoas, para depois expulsá-las. Ele tornou esse movimento inviável, e isso é grave para a comunidade", afirma Moura.
Brasileiros podem prever quem vai vencer?
Os imigrantes brasileiros costumam residir nos subúrbios, áreas no entorno de grandes cidades, como Miami, na Flórida, e Boston, em Massachusetts.
E enquanto as cidades americanas são majoritariamente democratas e as zonas rurais, republicanas, os subúrbios funcionam como uma espécie de região pendular, que a cada eleição tende para um lado do espectro político. É exatamente por essa característica que os eleitores dessas áreas têm enorme peso: eles são normalmente o fiel da balança eleitoral.
Em 2016, os subúrbios foram cruciais para a vitória de Trump sobre Hillary. Mas em 2020, parte desse eleitorado, especialmente as mulheres brancas, parece ter desembarcado da candidatura republicana. Há duas semanas, em um comício na Pensilvânia, o próprio Trump reconheceu o problema: ""As mulheres suburbanas, elas deveriam gostar de mim mais do que qualquer um aqui esta noite, porque eu acabei com a regulamentação que trouxe o crime para os subúrbios. Eu permiti a elas viverem o sonho americano. Mulheres suburbanas, vocês poderiam, por favor, gostar de mim? Eu salvei o bairro de vocês, certo");