A redescoberta da árvore de cacau responsável pelo ‘Rolex dos chocolates’

Crédito, Mariusz Szczawinski / Alamy
- Author, Lavinia Wanjau
- Role, Da BBC Travel
Viajar para o cânion do rio Marañón, no norte do Peru, é como voltar no tempo. A paisagem montanhosa é repleta de casas de tijolos de barro. A eletricidade, que chegou a essa região há apenas três anos, está disponível apenas em algumas moradias, e o fornecimento de energia pode ser instável. Funciona só cinco dias por semana, e você nunca sabe quais cinco dias serão esses. Com poucas estradas pavimentadas, os moradores dessa região remota dependem de mulas e bicicletas para o transporte.
O fato de o cânion do rio Marañón ter permanecido relativamente intocado pelo homem foi uma bênção, uma vez que foi aqui que a árvore que produz uma das variedades de cacau mais raras do mundo floresceu.
Este cacaueiro é nativo da selva amazônica e tem a honra de ser a variedade mais antiga do fruto — sua existência remonta há pelo menos 5,3 mil anos. Entre os séculos 17 e 19, o chamado cacau puro nacional foi amplamente cultivado no Equador, onde suas cobiçadas vagens ajudaram a abastecer o então maior fornecedor de cacau do mundo.
Até que aconteceu uma tragédia: uma praga se espalhou pelas lavouras de cacau do Equador, dizimando a espécie, que era altamente vulnerável. Por meio do cruzamento com variedades mais fortes de cacaueiros, os agricultores conseguiram impedir a propagação da praga, mas as novas árvores fruto do cruzamento não eram capazes de produzir grãos com mesma qualidade do puro nacional.
No início do século 20, especialistas declararam extinta esta variedade de cacaueiro, e acreditava-se que seu delicioso fruto estivesse perdido para sempre.
Até recentemente.
Em 2007, dois americanos, Dan Pearson e seu enteado Brian Horsley, forneciam equipamentos e alimentos para empresas de mineração nos arredores do cânion do rio Marañón, perto da fronteira com o Equador, quando se depararam com uma árvore de aparência estranha, com vagens do tamanho de uma bola de futebol americano crescendo do seu tronco.
Intrigados, sem saber do que se tratava, eles enviaram várias amostras da espécie ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) em busca de uma resposta. Para surpresa de todos, as amostras eram de cacaueiro puro nacional.
Localizado entre os picos dos Andes, o rio Marañón (que por acaso é a cabeceira do rio Amazonas) esculpiu o cânion de mesmo nome, criando uma barreira natural que salvou um pequeno grupo de cacaueiros puro nacional da praga. Ninguém conseguia acreditar que aqueles dois homens haviam encontrado o cacau que há muito tempo dava-se como extinto.
"Quando eles ligaram com os resultados dos testes genéticos em mãos e perguntaram: 'Você está sentado");