O mistério da 'cidade dos gêmeos' brasileira
Cândido Godói, no Rio Grande do Sul, é conhecida mundialmente pelo alto índice de gêmeos nascidos na cidade.
A taxa entre seus 6,5 mil habitantes é dez vezes superior à média nacional.
“Para nós, era algo normal”, diz Lucia Gronitzgi, que tem uma irmã gêmea, Luciane Gronitzgi.
“Tínhamos colegas da escola que também eram gêmeos. Muitos coleguinhas, amiguinhos.”
“Nós até estranhávamos quando não eram gêmeos, né?”, afirma Luciane.
Isso intriga cientistas desde os anos 1990, época em que começaram as primeiras pesquisas sobre esse curioso fenômeno – e que seguem até hoje.
A cada dois anos, é organizado um festival para as centenas de gêmeos que nasceram ali.
Geneticistas participam fazendo entrevistas e coletando amostras de DNA para investigar o motivo de haver tantos gêmeos em Cândido Godói.
“Pediram a nossa família hereditária, alguns hábitos que a gente tem, nossos pais, nossas mães. A gente quer ajudar para ver se descobrem qual é o segredo”, diz Christian Adams.
“Há várias hipóteses, mas, até agora, cientificamente, não foi comprovado nada ainda”, afirma Cléofas Adams, irmão gêmeo de Christian.
Uma destas hipóteses está na origem da cidade. O historiador Paulo Lirio Gauthier conta que Cândido Godói foi colonizada por alemães, em torno de 15 a 20 famílias.
Hoje, a população é formada por 80% de descendentes de alemães, 13% de poloneses e 7% de outras etnias.
“A gente sempre acreditou que os alemães tinham uma carga genética muito elevada de nascimentos múltiplos.”
Mas ter gêmeos idênticos não é algo hereditário.
“Na verdade, não se chegou a um consenso para definir o porquê dessa alta incidência, tanto de gêmeos univitelinos e bivitelinos”, diz Valdi Luis Goldsmith, prefeito de Cândido Godói.
Ele dá seu palpite: “É pela coincidência, vamos pôr assim, do fato de termos uma comunidade pequena. As pessoas se casavam mais próximas, entre a comunidade, e, tendo muitos filhos, a proporção e a possibilidade de terem gêmeos era muito grande”.
Alguns na cidade acreditam que o fenômeno dos gêmeos pode ter origem nos nazistas.
Há quem diga que o médico alemão Josef Mengele esteve na cidade nos anos 1960 depois de fugir para a América do Sul.
Mengele é conhecido por seus experimentos com gêmeos no campo de concentração de Auschwitz.
“Sou médico há quase 50 anos e acredito na vinda do Mengele na região. Ele esteve aqui. Agora, não acredito que ele tenha manipulado ninguém. Não acredito”, diz Anencir Flores da Silva.
“O máximo que ele pode ter feito foi observar essa curiosidade dos gêmeos de Cândido Godói.”
Sem uma solução, o mistério do alto índice de gêmeos de Cândido Godói continua a intrigar geneticistas.
“A própria comunidade (nos) procurou para tentar entender o que estava acontecendo aqui”, diz o cientista Augusto Santos.
“Então, a gente veio para dar continuidade às pesquisas que acontecem aqui na região desde 1994.”
A cidade participa também de um estudo comparativo com outros locais do mundo onde há muitos gêmeos.
“Esperamos que eles tragam alguma coisa para a gente, digam que seja A ou B, que tragam alguma explicação, né?”, diz Lucia Gronitzgi.