Sob pressão, Twitter diz remover 7 posts de desinformação de covid por hora; 'É pouco', dizem especialistas

Pessoa usando o Twitter

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Redes sociais como o Twitter estão sob pressão por medidas contra desinformação
  • Author, Rafael Barifouse
  • Role, Da BBC News Brasil em São Paulo

Sob pressão de usuários e da Justiça para combater a desinformação sobre a covid-19, o Twitter diz ter removido 63.876 posts por violarem sua política contra fake news sobre a pandemia no último ano, o que equivale a sete tuítes por hora, em média.

A rede social suspendeu por esse motivo na última semana as contas de dois de seus usuários mais influentes no Brasil.

O pastor Silas Malafaia disse que que a vacinação de crianças contra a covid-19 seria um "infanticídio" e foi obrigado a apagar essa e outras mensagens consideradas "gravemente nocivas".

Seu perfil ficou fora do ar temporariamente por causa disso.

O empresário Luciano Hang, dono da rede Havan, também foi suspenso. O Twitter disse que fez isso por causa de uma ordem judicial.

Hang esclareceu que o motivo teria sido um vídeo que ele compartilhou, em que um neurocirurgião que é contra a vacinação infantil para covid-19 falava sobre o assunto.

Hang e Malafaia criticaram o Twitter. Disseram que suas suspensões foram injustas e atentam contra sua liberdade de expressão.

O Twitter tem desde março de 2020 uma política específica para combater a divulgação de informações falsas e enganosas sobre covid-19.

Questionada pela BBC News Brasil sobre os resultados obtidos até agora, a empresa apresentou dados que apontam que, em 2021, foram tirados do ar em todo o mundo sete tuítes por hora por causa deste motivo.

O Twitter não divulga o número de postagens publicadas em sua plataforma, mas o site Internet Live Stats aponta que seriam cerca de 500 milhões por dia, ou 20,8 milhões por hora.

Ao todo, no último ano, foram removidos 63.876 tuítes por desinformação sobre covid-19.

Para Raquel Recuero, coordenadora do Laboratório de Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais (Midiars) da Universidade Federal de Pelotas, o número é insuficiente.

"É pouco. É um número muito pequeno para a escala de desinformação que tem hoje só Brasil", avalia Recuero.

Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS-Rio), concorda.

"Tirar do ar sete posts por hora parece pouco. considerando que o Twitter se tornou umas das principais ferramentas de mobilização e construção de mensagens que são ligadas a conteúdos desinformativos, que vão desde questionar as urnas até duvidar das vacinas", diz Souza.

Os dados do Twitter mostram ainda que, em 2021, foram suspensas 3.455 contas por violarem as regras de desinformação sobre covid-19.

Atualmente, a rede social tem no mundo 211 milhões de usuários ativos (que am diariamente o serviço), de acordo com a própria empresa.

O Twitter não quis comentar a avaliação dos especialistas entrevistados pela BBC News Brasil.

A rede social afirmou, no entanto, que vem aprimorando ao longos dos últimos quase dois anos sua política de combate à desinformação sobre a covid-19.

A empresa disse que a remoção de conteúdo e a suspensão de contas são atualmente apenas duas das medidas previstas.

Um tuíte pode, por exemplo, ser sinalizado por conter "informações enganosas e potencialmente prejudiciais". A rede social também pode atrelar um link à publicação para informar melhor o usuário sobre o assunto.

Recuero diz que o Twitter tem sofrido, especialmente nas últimas semanas, críticas e cobranças em relação à sua política de desinformação.

"Acredito que tenha a ver com a vacinação infantil, que provocou essa reação. Mas me parece que o Twitter tem permitido muita desinformação. Tem desinformação até na lista de assuntos mais comentados."

A pesquisadora ressalta ainda que, mesmo quando o conteúdo é removido, o tempo de reação pode comprometer todo o esforço.

"O objetivo dos posts desinformativos é viralizar e, quando viralizam, eles têm uma quantidade absurda de retuítes. Se a plataforma demora para excluir o tuíte original, ele já vai ter sido muito replicado, e a remoção do primeiro post acaba sendo ineficaz."

Isso é especialmente preocupante, segundo Souza, quando as mensagens falsas ou enganosas são publicadas por pessoas que têm muitos seguidores, como Hang e Malafaia.

"As postagens ganham uma visibilidade e repercussão ainda maior", avalia.

O que aconteceu?

Capa do perfil de Luciano Hang no Twitter

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Conta do empresário Luciano Hang foi suspensa

O empresário Luciano Hang tinha mais de 250 mil seguidores, por exemplo, em sua conta no Twitter que foi suspensa na quarta-feira (12/1).

Este era seu segundo perfil na rede social e foi criado após o primeiro ter sido tirado do ar por ordem do STF ainda em 2020.

O Twitter informou que a nova medida também foi tomada por ordem da Justiça, mas não deu mais detalhes.

O empresário explicou, em nota enviada à imprensa, que o motivo teria sido o compartilhamento de um vídeo em que o médico José Augusto Nasser fala sobre a vacinação infantil.

Nasser foi um dos convidados pela deputada federal Bia Kicis (PSL/DF) para falar na audiência pública promovida pelo Ministério da Saúde sobre o tema.

Na ocasião, ele se manifestou contra a imunização de crianças para covid-19.

Em reação à sua suspensão, Hang disse que a medida viola seu direito à liberdade de pensamento e de expressão.

"Um absurdo! Não é possível que se tenha uma única verdade e que você não possa questioná-la. Agora não podemos mais compartilhar informações para as pessoas tomarem suas próprias decisões");