Não conseguia mais ver matarem pessoas sem que nada fosse feito: o homem que luta contra a caça às bruxas na Nigéria

Pessoas fazem protesto na rua segurando placas e faixas com os dizeres "We are not witches", ou "nós não somos bruxas"

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Protesto contra a caça às bruxas na Nigéria em 2009.
  • Author, Jonathan Griffin e Olaronke Alo
  • Role, BBC Trending
  • Reporting from Londres e Lagos

Aviso: este artigo contém detalhes que alguns leitores podem achar perturbadores.

O ativista Leo Igwe está na linha de frente dos esforços para ajudar pessoas acusadas de bruxaria na Nigéria, que muitas vezes correm o risco de serem linchadas.

"Eu não podia mais ar isso. Você sabe, ficar por aí e ver as pessoas sendo mortas aleatoriamente", diz Igwe à BBC.

Depois de concluir seu doutorado em estudos religiosos em 2017, ele estava inquieto. Havia escrito muito sobre bruxaria e estava frustrado porque o mundo acadêmico não lhe permitia desafiar essa prática de forma direta.

A BBC viu evidências de pastores pentecostais na Nigéria realizando cultos direcionados a supostas bruxas, uma prática que, segundo Igwe, não é incomum em um país onde muitos acreditam no sobrenatural.

Por isso, Igwe criou a Advocacy For Alleged Witches (que em português seria “Defesa das Supostas Bruxas”), uma organização focada em “usar a compaixão, a razão e a ciência para salvar as vidas das pessoas afetadas pela superstição”.

O trabalho de prevenção de Igwe se estende a Gana, Quênia, Malaui, Zimbábue e além.

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Uma das pessoas que a organização ajudou na Nigéria é Jude, de 33 anos.

Em agosto, eles intervieram quando Jude foi acusado e agredido no estado de Benué.

Jude, um vidraceiro que também trabalha meio período em um banco, conta que estava a caminho do trabalho uma manhã quando encontrou uma criança carregando dois jarros pesados de água, o que o levou a fazer um comentário sobre a agilidade física do menino.

A criança não recebeu bem suas palavras, mas seguiu seu caminho.

Mais tarde, Jude foi seguido por uma multidão de cerca de 15 pessoas que jogaram pedras nele. Entre elas estava o menino que ele havia cumprimentado anteriormente.

"Os jovens começaram a brigar comigo, tentando me incendiar", afirma Jude.

Ele foi acusado de causar o desaparecimento do pênis do menino por meio de bruxaria, algo que é falso e o surpreendeu.

As denúncias de desaparecimento de pênis em homens são frequentes em algumas partes da África Ocidental.

Essas acusações têm sido associadas ao síndrome de Koro, uma doença mental também conhecida como síndrome de retração genital.

Trata-se de um transtorno psiquiátrico caracterizado por um medo intenso e irracional de que os órgãos genitais desapareçam ou se retraiam para dentro do corpo da vítima.

Retrato de cabeça e ombros de Leo Igwe, que olha para a câmera vestindo uma camisa colorida.

Crédito, Jonathan Griffin / BBC

Legenda da foto, Igwe criou a organização Advocacy For Alleged Witches (Defesa de supostas bruxas).

A provação de Jude

Jude perdeu seu emprego no banco por causa do estigma em torno da acusação de bruxaria, diz Igwe.

Um vídeo da violenta altercação que ele sofreu também começou a circular no Facebook, e foi quando Igwe e sua equipe perceberam e começaram a investigar.

"Ele [Jude] foi levado nu, você sabe, brutalizado", diz Igwe. "A primeira coisa que fizemos foi localizar o problema: onde isso está acontecendo"O ex-presidente Jair Bolsonaro, sua esposa Michelle Bolsonaro e o ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência do Brasil Onyx Lorenzoni em culto evangélico em julho de 2019 " loading="lazy" width="2044" height="1150" style="aspect-ratio:2044 / 1150" class="bbc-139onq"/>