O presente do Catar que uniu apoiadores e oponentes de Trump

Trump e Al Thani

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O presidente dos EUA, Donald Trump, e o emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani, durante cerimônia de de acordos em Doha na quarta-feira (14/5)
  • Author, Mike Wendling
  • Role, BBC News

Em sua ânsia de aceitar um avião do Catar, Donald Trump alcançou um feito notável, unindo representantes de ambos os lados da profunda divisão política nos Estados Unidos.

O problema para a Casa Branca é que a união está acontecendo em oposição ao governo.

Como era de se esperar, os oponentes de Trump do Partido Democrata criticaram o presidente depois que ele indicou que aceitaria um jato de luxo oferecido pela família real do Catar.

Mais digno de nota — e potencialmente mais preocupante para o presidente — é que alguns de seus mais fortes apoiadores também possuem sérias reservas em relação ao acordo, embora ele ainda não tenha sido finalizado.

Influenciadores do movimento Maga (Make America Great Again) descreveram a iniciativa como um "suborno", uma fraude e um exemplo da corrupção de alto nível que o próprio Trump sempre prometeu erradicar.

A família real do Catar planeja doar o luxuoso Boeing 747-8, avaliado em US$ 400 milhões, ao Departamento de Defesa dos EUA para ser usado como parte da frota de aviões da Air Force One — o meio de transporte aéreo oficial do presidente.

A frota atual inclui dois jatos 747-200 que estão em uso desde 1990, além de vários 757 menores.

A Casa Branca diz que o novo avião —que pode levar anos e milhões de dólares para ser reformado e modernizado — vai ser transferido para o acervo presidencial de Trump ao final do seu mandato.

Um avião voando sobre Mar-a-Lago exibindo uma faixa que diz: 'Bem-vindo a Catar-a-Lago'

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O Comitê Nacional Democrata sobrevoou com sua própria aeronave o resort de Trump na Flórida na quarta-feira, exibindo uma faixa com os dizeres: 'Catar-a-Lago'
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Depois que a notícia foi divulgada no domingo (11/5), a reação foi feroz e imediata.

"Acho que o termo técnico é 'suspeito'", disse o comentarista conservador do Daily Wire, Ben Shapiro, em seu podcast.

"O Catar não está supostamente dando ao presidente Trump um jato de US$ 400 milhões por ter um bom coração", ele acrescentou. "Eles tentam enfiar dinheiro no bolso de forma totalmente bipartidária."

Assim como outros, ele citou alegações de que o Catar direcionou dinheiro para grupos terroristas — acusações que o país nega —, e chamou os cataris de "os maiores defensores do terrorismo em escala internacional".

A influenciadora Laura Loomer, que espalha teorias conspiratórias nas redes sociais e pede a demissão de altos funcionários da Casa Branca que não são considerados leais o suficiente, interrompeu seu fluxo constante de mensagens pró-Trump para criticar a medida.

Embora tenha dito que ainda apoia o presidente, ela classificou a transação relacionada à aeronave como "uma mancha" — e publicou uma caricatura do Cavalo de Troia, redesenhado como um avião e repleto de militantes islâmicos armados.

Trump também encontrou pouco apoio para o plano entre os veículos de comunicação mais mainstream.

O New York Post, com o qual ele geralmente pode contar para apoiar grande parte da agenda populista do Maga, publicou um editorial contundente: "O jato 'Palace in the Sky' do Catar NÃO é um 'presente grátis' — e Trump não deveria aceitá-lo como tal."

E Mark Levin, um constante entusiasta do presidente na Fox News e em seu programa de rádio, postou no X (antigo Twitter) acusando o Catar de ser um "Estado terrorista". "O jato deles e todas as outras coisas que estão comprando em nosso país não vai dar a eles o disfarce que procuram", escreveu.

Durante seu primeiro mandato, o próprio Trump acusou o Catar de financiar grupos terroristas.

Quando contatada pela BBC, a embaixada do Catar em Washington indicou uma entrevista que o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani, deu à rede CNN sobre o avião.

"Trata-se de uma transação entre governos. Não tem nada a ver com relacionamentos pessoais — nem por parte dos EUA, nem por parte do Catar. É entre os dois ministérios da Defesa", ele disse.

"Por que compraríamos influência nos EUA");