Carlos Lupi: o escândalo do INSS que derrubou ministro da Previdência de Lula

Carlos Lupi

Crédito, ANDRE BORGES/EPA-EFE

Legenda da foto, Embora não haja indícios de sua participação direta, Carlos Lupi ou a ser pressionado politicamente após descoberta de fraude no INSS

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, entregou o cargo nesta sexta-feira (2/5). Esta é a 11ª troca de ministros no governo Lula desde o início do atual mandato, em janeiro de 2023.

"Tomo esta decisão com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso, que apuram possíveis irregularidades no INSS. Faço questão de destacar que todas as apurações foram apoiadas, desde o início, por todas as áreas da Previdência, por mim e pelos órgãos de controle do governo Lula", publicou no X.

"Espero que as investigações sigam seu curso natural, identifiquem os responsáveis e punam, com rigor, aqueles que usaram suas funções para prejudicar o povo trabalhador."

Embora não haja indícios de sua participação direta, ele ou a ser pressionado politicamente — o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria insatisfeito com como reagiu à crise.

O Planalto divulgou nota sobre a demissão logo após Lupi ter se manifestado.

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, na tarde desta sexta-feira, 2 de maio, o pedido de demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, durante audiência no Palácio do Planalto. O presidente convidou o ex-deputado federal Wolney Queiroz, atual secretário-executivo da Previdência, para ocupar o cargo de ministro. A exoneração de Lupi e a nomeação de Wolney serão publicadas ainda hoje em edição extra do Diário Oficial da União."

No dia 23 de abril, o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido a pedido de Lula após se tornar alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU). Stefanutto havia sido indicado ao cargo por Lupi em julho de 2023.

A investigação apura um esquema de descontos indevidos em aposentadorias e pensões entre 2019 e 2024. Estima-se que os valores descontados somem R$ 6,3 bilhões, mas ainda não está claro quanto desse montante foi obtido ilegalmente.

Segundo pesquisa da AtlasIntel divulgada na quinta-feira (1/5), 85,3% dos brasileiros acreditavam que Lula deveria demitir Lupi após as denúncias de fraudes no INSS.

Lula e Carlos Lupi

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Lula estaria disposto a receber uma nova indicação de um nome do PDT para assumir o ministério após a saída de Lupi

Na quarta-feira (30/4), deputados de oposição protocolaram um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (I) na Câmara. Para ser aberta, o pedido precisa ser deferido pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), que ainda não se manifestou sobre o assunto.

Lupi é presidente licenciado do PDT, partido que comanda desde junho de 2004, após a morte de Leonel Brizola.

Ao longo da carreira, foi ministro do Trabalho e Emprego, secretário de Transportes da Prefeitura do Rio de Janeiro, deputado federal e primeiro suplente do senador Saturnino Braga. Também integrou o Conselho de istração do BNDES, presidiu os conselhos curadores do FAT e do FGTS e atualmente é membro do Conselho de istração da multinacional Tupy S.A.

Guerra de narrativas

Segundo a PF e a CGU, aposentados e pensionistas do INSS eram vítimas de um esquema de descontos indevidos em seus benefícios. As cobranças, feitas por associações e sindicatos, muitas vezes ocorreram sem a autorização dos segurados.

Esses descontos ocorrem de maneira legal quando os aposentados aceitam se associar a alguma instituição em troca de benefícios, como serviços médicos e atividades de lazer.

Mas, segundo as investigações, tanto associações reais como instituições de fachada criadas há pouco tempo aram a incluir entre seus associados milhares de aposentados sem seu consentimento.

A revelação da fraude bilionária no INSS criou uma guerra de narrativas entre o governo Lula e a oposição bolsonarista. Cada lado acusa o outro de responsabilidade pelo esquema de corrupção.

Agentes da Polícia Federal em frente ao prédio do INSS

Crédito, Polícia Federal

Legenda da foto, A Operação Sem Desconto estima que o esquema envolva R$ 6,3 bilhões
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Investigações adas do Ministério Público já apuraram descontos indevidos em 2018 e 2019, ainda nos governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL), mas em escala menor do que a observada na fraude revelada agora.

Na guerra de narrativas, autoridades da gestão petista e parlamentares governistas enfatizam que, segundo a CGU e a PF, o esquema teve início em anos anteriores ao mandato de Lula (2023-2026) e argumentam que apenas no atual governo o esquema foi investigado e interrompido.

"O esquema que visava fraudar o INSS foi implementado durante o governo Bolsonaro. A maioria das entidades suspeitas surgiu entre os governos Temer e Bolsonaro. A única gestão que topou investigar e desmantelou a rede foi a do presidente Lula. Entendeu ou quer que eu desenhe");