'Bebês reborn são cópia da exploração de crianças reais por seus pais nas redes sociais'

Crédito, Douglas Magno/AFP
- Author, Flávia Mantovani
- Role, De São Paulo (SP) para a BBC News Brasil
Por que incomoda tanto que mulheres adultas brinquem com bonecas, enquanto hobbies masculinos como vestir-se de herói em encontros de fãs de séries são naturalizados?
O questionamento é feito pela psicanalista Thaís Basile diante da repercussão do fenômeno dos bebês reborn — bonecos hiper-realistas que caíram nas graças de algumas mulheres e viraram meme, motivo de piada e de projetos de lei que buscam coibir sua utilização para furar fila ou ar serviços públicos.
Autora dos livros Nossa infância, nossos filhos (Matrescência, 2020) e Atravessando o deserto emocional (Paidós, 2024), Basile afirma que a onda de influencers "mães" de bebês reborn é uma extensão da fetichização de bebês reais, expostos pelos pais nas redes sociais.
Ela também defende que esse "retorno ao infantil" seja analisado não sob um ponto de vista individual, mas como manifestação de uma sociedade que impõe às mulheres uma "maternidade compulsória" e as sobrecarrega com tarefas de cuidado.
"Somos socializadas para o cuidado e a hiper-responsabilização desde muito cedo, às custas da própria infância. Cuidamos de irmãos, dos próprios pais imaturos, depois dos filhos, dos pets. É um sintoma que estejamos apostando num cuidado imaginário, em que posso fantasiar ser uma cuidadora perfeita para este ser que não me exige nada", afirma.

Crédito, Arquivo pessoal
Em sua opinião, a sociedade não tolera ver mulheres se permitindo exercer esse papel de forma "imatura".
"Enquanto mulheres cuidam de crianças reais, pets e plantas, ainda estão exercendo um cuidado esperado. Quando falamos de reborn, estamos falando de um cuidado fantasioso, e isso toca na ferida do nosso desamparo estrutural", diz Basile.
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"'Como assim as pessoas que estruturam a sociedade, de quem se espera que sejam maduras, estão agindo de forma tão imatura");