A história da chocante 'foto do ano' de menino palestino mutilado

Crédito, World Press Photo
Importante: esta reportagem contém descrições de ferimentos de guerra que podem ser perturbadoras para alguns leitores.
"Vou me tornar piloto e jogar futebol com meus amigos", declarou com convicção Mahmoud Ajjour, de apenas nove anos, à agência de notícias Reuters, em setembro do ano ado.
Ele falava da sua nova casa em Doha, no Catar. O menino precisou buscar refúgio junto com sua família, depois que um ataque de Israel atingiu seu antigo lar, na Faixa de Gaza. Ele acabou ferido por uma explosão, que o deixou com um braço amputado e o outro, mutilado.
Hoje, o rosto de Mahmoud Ajjour e as consequências da guerra sobre seu corpo estão por toda parte. Uma de suas fotografias, tirada por Samar Abu Elouf (também de Gaza), ganhou na quinta-feira (17/4) o prêmio World Press Photo, um dos mais prestigiados da categoria.
Ajjour conta que, durante um dos ataques israelenses à Faixa de Gaza, em dezembro de 2024, um míssil explodiu perto dele, enquanto saía de casa com seus pais.
"Fiquei jogado ao solo, sem saber o que havia me atingido", contou ele à Reuters. "Eu não sabia que havia perdido os braços."
"Assim que foi ferido, Mahmoud pediu à sua mãe que o deixasse e levasse sua irmã com ela", segundo a jornalista fotográfica Samar Abu Elouf, autora da foto premiada.
"Ele temia pelas vidas delas, devido à intensidade do bombardeio. Mas sua mãe se recusou a ir embora e ficou ao seu lado, até encontrar um veículo estacionado. Assim, ela conseguiu levá-lo para o hospital."
Ajjour foi operado em Gaza com anestesia limitada. Ele acordou da cirurgia com muita dor e sem os braços, segundo sua mãe.
Quase todos os hospitais da Faixa de Gaza foram destruídos e os médicos afirmam que, frequentemente, precisam realizar cirurgias sem anestesia, nem analgésicos.
Israel começou uma operação militar sobre Gaza no dia 7 de outubro de 2023, em resposta a um ataque do Hamas que matou 1,2 mil pessoas e fez 250 reféns.
Desde então, mais de 50 mil pessoas morreram na Faixa de Gaza sob fogo israelense e mais de 113 mil ficaram feridas.

Crédito, World Press Photo
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNWRA, na sigla em inglês) estima que a Faixa de Gaza seja o território com mais crianças amputadas do mundo, proporcionalmente à sua população.
Desde o início da guerra, foram firmados diversos acordos para evacuar as pessoas com ferimentos graves. Até março de 2025, foram evacuados mais de 7 mil pacientes, mas pelo menos outros 11 mil seguem aguardando, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Muitos dos feridos evacuados seguem para o Egito, Jordânia, Turquia ou para o Catar, como fizeram Mahmoud Ajjour e sua família.
A fotografia
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Foi no Catar que o destino do menino encontrou Samar Abu Elouf.
A fotojornalista mora agora em Doha, no mesmo complexo de apartamentos de Ajjour. Ela precisou ser retirada de Gaza em dezembro de 2023, a mesma época em que o menino perdeu os braços.
Abu Elouf conta o momento em que Ajjour tomou consciência da sua nova condição.
"Quando percebeu a situação, que é irreversível, a primeira coisa que ele perguntou à sua mãe foi: 'Como vou abraçar você agora");